Mais uma fantástica revista humorística, com conteudos criados por José Vilhena...
É no facto de possuir um talento multifacetado que se baseia a capacidade de Vilhena em montar um one-man-show.
Para um número da Gaiola Aberta, por exemplo, Vilhena produzia humor em texto e imagem. O texto podia consistir (do mais longo ao mais curto) em ensaios sobre determinados temas, "notícias" ou textos afins com três ou quatro parágrafos, anedotas, ou ainda simples frases com conteúdo humorístico.
Existem ainda outros textos ocasionais que não são classificáveis em nenhum dos grupos anteriores (ver, por exemplo, ao lado, uma selecção do soberbo "Preto e Branco" publicado em Agosto de 1975).
As imagens utilizadas por Vilhena podem ter por base ilustrações do autor ou não.
Estas últimas podem ser constituídas por ilustrações propriamente ditas ou outros grafismos alheios (alterados ou não) a que o autor acrescenta uma legenda ou cartucho com texto (como no exemplo à direita, baseado numa gravura de finais do século XIX e publicado no Fala Barato).
Podem, ainda, ser constituídas por fotografias (do autor ou alheias) com texto, fotomontagens, ou outras manipulações diversas.
As ilustrações do autor (e desenvolvo apenas este ponto para frisar a variedade conseguida) podem servir apenas para complementar graficamente textos ou constituir cartoons de sátira política, anedotas desenhadas, diálogos, banda desenhada, caricatura, etc, etc...
O exemplo à direita, soberbo não só pela capacidade gráfica que evidencia mas também pela oportunidade e humor, foi capa da Gaiola Aberta em 1975.
Em relação ao texto, as páginas da Internet não são o melhor meio de exemplificação e os leitores interessados poderão dirigir-se à editora de José Vilhena (seguindo o apontador na página biográfica) onde poderão adquirir os números antigos das suas publicações (surpreendentemente quase todos estão ainda disponíveis).
Direi, no entanto, que (na minha opinião) os melhores textos de Vilhena se baseiam na ironia mordaz (tão comum, que quando o autor quer falar a sério tem que fazer chamadas dizendo que não está a brincar).
Um subconjunto destes textos são os de auto-vitimização, em que Vilhena é incontestável especialista. Por exemplo no nº29 do "Fala Barato" Vilhena começa assim o que chamou "Dossier Carolina" em que conta uma versão muito própria do processo judicial intentado contra si: "Aqui se conta a sórdida e verdadeira história de uma rica princesa do Mónaco que tentou extorquir as parcas economias a um pobre cidadão português que não tem onde cair morto". E, no interior: "A Princesa Golpista, ou de como Rainier III do Mónaco e sua filha D.Carolina, encontrando-se à rasca de massas, resolveram sacar uns centos de milhares de dólares a um país insolvente e crivado de dívidas e a um publicista e editor tecnicamente falido. Anda tudo ao mesmo!".
O aspecto mais polémico na obra de Vilhena é o da linguagem utilizada nos textos e o recurso àquilo que muitos classificariam como ilustrações pornográficas.
Antes do 25 de Abril as circunstâncias ditavam o comedimento, a utilização de termos dúbios, os floreados circunloquiais, os eufemismos,... mas nem por isso se deixava de conseguir dizer o que se pretendia e a elegância com que se tratavam temas que reconhecidamente não se prestavam a um tratamento elegante era, ela própria, parte do humor.
Após a Revolução, na Gaiola Aberta, os temas puderam ser mais ousados e a linguagem mais directa. Mas esse era o espírito da época e não há realmente na revista nada de particularmente chocante. No entanto, em 1980 e portanto durante a vida da Gaiola Aberta, Vilhena experimentou, com a revista Vida Lisboeta, a utilização de uma linguagem muito mais pesada e ilustrações de cariz claramente pornográfico. Consciente de incorrer em riscos de erosão da sua imagem, nunca utilizou o nome "Vilhena" assinando "José Rodrigues". A publicação não vingou.
Apesar disso, e algo surpreendentemente, o Fala Barato foi cenário de um "alargamento" do léxico e essa liberalização foi evoluindo até à publicação, sobretudo n'O Moralista, de muitas das imagens "pesadas" que já tinham sido originalmente utilizadas na ilustração da Vida Lisboeta.
Recentemente parece ter havido uma inversão de marcha com a utilização em alguns números d'O Moralista de uma linguagem quase cândida e ilustrações mais ou menos a condizer.
José Vilhena afirmou, em entrevista à revista K, que a sua actividade como autor e publicista é um negócio puro e simples e, por isso, é natural que altere os parâmetros de acordo com o mercado-alvo que pretende atingir.
Texto: João Manuel Mimoso
Fonte: http://www.tabacaria.com.pt/JoseVilhena/humorismo/humorismo.htm
[1974 - 1978] - 1ª Série
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[2005-?] - 2ª Série
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O primeiro não está disponivel, à semelhança de muitos outros de outras colecções mais aqueles em que o servidor está em manutenção. Conclusão falta sempre um ou outro para conclusão de uma ou outra estória quando em continuação.
ResponderEliminarFora isso, os meus mais sinceros parabéns pelo privilégio da partilha.
Viva Jorge, obrigado pela visita.
EliminarÉ o que é possível fazer...:)
Se quiseres algum número em especial sinaliza por favor no post o que está em falta que eu tento actualizar os links na medida do possível...
Abração,
Giz
Alguém me elucide: acho que o último nº da Gaiola Aberta foi o dedicado à Carolina do Mónaco. Terá sido o 121 da 1ª série ou o 30 da 2ª?
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