O Faísca surgiu como suplemento do semanário infantil O Senhor Doutor, que se publicou entre nós de 1933 a 1943. Era então exclusivamente elaborado com material criado pelos leitores, redacções, versos e desenhos.
Carlos Cascais Xavier, ligado a O Senhor Doutor, iria logo depois dirigir uma revista autónoma, com o mesmo título: O Faísca. No entanto, apesar de algumas inovações e boas intenções, esta durou apenas 92 números, entre 1943 e 1944, tendo mudado por duas vezes o tamanho inicial, sempre mais reduzido. A concorrência d’O Mosquito e do Diabrete revelou-se excessivamente forte...
Saía aos sábados e manteve sempre o preço de capa inicial, cinquenta centavos, cinco tostões...
Para além de historietas de origem inglesa, foi a primeira revista, em toda a Europa, a publicar aventuras de heróis e super-heróis norte-americanos em voga nessa época: The Ray, Doctor Midnight, The Shadow, Arlequin, Agent X-9, Flash Ryan e outros. Mas este material era por vezes fragmentado, traduzido de forma algo superficial, quase impossível de descodificar. Aliás, algumas trocas ou erros em legendagens de histórias nacionais também aconteceriam com alguma frequência. Isso baralhava-nos.
Quanto à produção nacional, foi procurada uma clara inspiração em heróis estrangeiros de sucesso, por imitação. Foi o caso de Tarzan, transformado em Gholo ou em Amu, e de Flash Gordon, que deu origem a Satânia, o Império Oculto, uma novela que chegou a ser ilustrada com vinhetas da própria série imitada.
A feição poética de Carlos Cascais, um apreciável literato, não se traduziu, portanto, num rigor editorial compatível com tais méritos.
O Faísca publicou também histórias desenhadas provenientes dos estúdios de Walt Disney, adaptações de filmes de animação, episódios de Donald e similares. O cinema foi aliás um conteúdo significativo no jornal, com alusões ao mundo da 7.ª arte e com a organização de um clube infanto-juvenil privativo, o Donald, que foi a primeira associação cultural a que pertenci.
Ainda assisti a uma sessão cinematográfica, com filmes de Disney, no âmbito do Clube Donald, do qual guardo ciosamente o cartão de sócio, com o número 241. Até veio a tal propósito o meu nome, completo, numa página do jornal. Que honra, para o tempo!
Os principais colaboradores de Carlos Cascais nesta sua nova aventura editorial nomeforam António Barata, Rodrigues Neves, Rui Vilhena, Orlando Marques e Guy Manuel, estreando-se como argumentista (para além do director) o jovem Artur Varatojo, então com 17 anos. Mas um triste número do jornal, a 14 de Agosto de 1943, trouxe-nos a fatal notícia da prematura morte do jovem e talentoso Guy Manuel (Henriques de Almeida Fernandes)...
Rodrigues Neves, natural de Portalegre, desenhou apreciavelmente as histórias de “Crash” Parker na China e Gholo, o filho da selva, embora fossem dois “pastiches”.
O Faísca assumiu sempre um claro pendor nacionalista, com explícitas alusões à Mocidade Portuguesa, incluindo capas e outras ilustrações.
O conteúdo do semanário era variado, para além das novelas escritas e das histórias desenhadas, pois dedicou secções regulares ao cinema, planos de modelismo, correspondência com os leitores, apontamentos literários e poéticos, episódios históricos, filatelia, costura, engenhocas, campismo, passatempos, curiosidades e outros temas.
Organizou um concurso –Bandeiras de Portugal– que no entanto provocava a mutilação do jornal, pois obrigava os concorrentes a recortar a última página de muitos exemplares, onde figuravam os sucessivos cromos da colecção.
Provavelmente saudoso do conteúdo do primitivo título que repetira no seu novo jornal, Carlos Cascais abriu neste uma secção, muito concorrida, dedicada à colaboração dos leitores, em página intitulada O Papa-Moscas.
Para além das sessões cinematográficas, O Faísca patrocinou emissões de rádio no Clube Radiofónico de Portugal, sobretudo preenchidas com textos dramáticos de Reinaldo Ferreira (Néor X), interpretados por jovens leitores do jornal.
Depois da bem intencionada mas frustrada aventura de O Faísca, Carlos Cascais Xavier ainda dirigiria a 2.ª série de O Papagaio, quando este se transformou num suplemento infantil da revista Flama, entre 1949 e 1951.
Fonte: Blog Largo Dos Correios
[1943-1944]
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Boa noite.
ResponderEliminarTem a coleção para venda .
Estou interessado.
Cumprimentos .
965822322
EliminarOlá Jorge,
EliminarNão sei se um dos amigos terá/quererá vender. Em todo o caso sugiro deixar uma mensagem no chat do blog, pois tem mais visibilidae :)
Obrigado pela visita,
Giz